Hoje vamos fazer um roteiro de um dia no centro histórico de Salvador, será um passeio rápido e cheio de história da cidade onde nasceu o Brasil. Se você é turista e caiu por aqui, ótimo. Mas se você é soteropolitano, esse passeio é principalmente para você. Então, vamos lá:

Praça Castro Alves

Comece o seu roteiro pela Praça Castro Alves.

O poeta Antonio Frederico de Castro Alves viveu na cidade de Salvador onde se tornou o grande autor debruçado sobre temas sociais de seu tempo. O seu poema mais famoso é  O Navio Negreiro em que suas ideias abolicionistas são expressadas de forma dramática e ousada. Essa praça e a estátua representa, para a Bahia, a preservação dos valores humanistas e libertários tão caros ao poeto e ainda hoje tão atuais tendo em vista as desigualdades ainda presentes na sociedade brasileira.

Estando ali, pare um pouco para observar a estátua em homenagem ao poeta abolicionista que dá nome à praça. Castro Alves está representado como se estivesse a declamar uma poesia. O poeta, na praça, está de costas para a Baía de Todos os Santos e de frente para a sociedade desigual que permeava toda a sua obra de crítica social. Entretanto, dessa praça, você pode fazer o oposto do poeta e observar a linda vista da Baía de Todos os Santos da sua balaustrada. Imperdível.

Ao lado da praça, apenas observe e contemple o prédio do atual Hotel Fasano ,inaugurado em 2018, e sua fachada que ainda conta com a inscrição “A Tarde”. O prédio histórico abrigava a principal redação do maior jornal da cidade e foi cuidadosamente restaurado para abrigar o hotel mais confortável da capital baiana. A propósito, o hotel abriga também o sofisticado Restaurante Fasano.

Além disso, a praça Castro Alves fica na parte alta da falha geológica que divide a cidade em Cidade Alta e Cidade Baixa. Nessa altura, a falha tem aproximadamente 70 metros e foi fundamental no momento da fundação da cidade.

Cidade Alta e Cidade Baixa - Salvador Bahia
Cidade Alta / Cidade Baixa – Foto: Roberto Huczek / Unsplash

Por que Salvador foi fundada na Cidade Alta?

Como nos ensina a história, Tomé de Souza foi o primeiro governador-geral do Brasil entre os anos de 1549 a 1553 e veio até Salvador com a incumbência dada pelo Rei de Portugal de fundar aqui a primeira cidade.

Inicialmente, historiadores relatam que o português Tomé de Souza teria desembarcado pela primeira vez no então Arraial do Pereira, onde hoje se encontra a praia do Porto da Barra (agora você entende o nome do restaurante, né?). Na ocasião, se tratava de uma pequena vila, de poucos moradores. Na visita, o local, entretanto, não agradou a Tomé de Souza, em razão da sua vulnerabilidade defensiva.

Ele teria então navegado até a praia onde hoje se encontra a cidade baixa e decidido pela fundação da cidade na sua parte mais alta, com visão para toda a baía. O ponto estratégico escolhido levou em conta a visão panorâmica do mar, por onde as ameaças poderiam chegar, já que o objetivo maior era a fundação de uma cidade-fortaleza. Apenas imagine a mente estratégica do fundador quando tomou essa decisão que moldaria os contornos da cidade para sempre.

Salvador tinha muralha?

Em verdade, a praça Castro Alves é como se fosse uma espécie de marco do que era a Salvador orginal do século XVI. Quando fundada por Tomé de Souza, a cidade tinha seus limites até ali. Esses limites, aliás, eram demarcados por uma muralha ao redor de todo o perímetro da cidade.

Para além da praça, o território era dominado por povos originários indígenas, muitos dos quais foram escravizados para a construção da cidade. No interior de sua muralha, havia construções de palha e taipa.

Já dentro do que eram os limites originais da cidade, o passeio continua em direção ao Pelourinho, pela Rua Chile.

Por que a rua Chile tem esse nome?

Siga subindo pela Rua Chile, que tem esse nome em razão de uma homenagem à marinha chilena que visitou a cidade em julho de 1902. Há, inclusive, uma placa demarcando essa homenagem na fachada de um de seus edifícios.

Inclusive, na Rua Chile, você verá logo o lindíssimo edifício triangular onde se encontra instalado o Fera Palace Hotel, com seus lindos salões que já abrigaram até mesmo um Cassino.

Gravura de Salvador ainda murada, como planejada por Tomé de Souza
Gravura de Salvador ainda murada, como planejada por Tomé de Souza – Acervo do Fera Palace Hotel

O restaurante Omí, localizado nesse hotel, é a sua melhor escolha, pois fica localizado bem no vértice do triângulo que dá forma ao edifício e conta com uma bela decoração.

Elevador Lacerda

Subindo a Rua Chile, você chegará à Praça Tomé de Souza, onde além da atual Prefeitura de Salvador, encontra-se o icônico Elevador Lacerda.

Aprecie o primeiro elevador urbano do mundo e símbolo da cidade de Salvador. Construído pela família Lacerda, em um empreendimento privado à época, ele é o primeiro elevador urbano do mundo. A família Lacerda, entretanto, tem um passado de exploração do tráfico de escravizados, do qual resultou, aliás, a sua riqueza. Não se pode esquecer da profunda influência do passado escravista brasileiro em diversas construções na cidade de Salvador.

O ponto é ideal para fotos. Além disso, não deixe de descer em uma das suas cabines em direção à cidade baixa, a passagem custa apenas algumas moedas. No Elevador também existe uma sorveteria icônica para a cidade, a sorveteria A Cubana, que existe desde 1930.

Após apreciar o seu sorvete, desça pelo elevador pela falha geológica de aproximadamente 70 metros e vá até a Cidade Baixa.

Elevador Lacerda no Centro Histórico de Salvador
Elevador Lacerda – Foto: Elements

O que visitar na Cidade Baixa de Salvador?

Já na parte mais baixa da cidade, vá em direção à Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira do estado da Bahia.

A igreja é um exemplar lindíssimo de construção do século XVII e guarda em seu interior lindos altares. Cada pedacinho da sua fachada esculpida foi trazido da Europa em um trabalho que se prolongou por muitos anos e teve um custo elevadíssimo.

Entre na Basílica, aprecie o seu lindo e riquíssimo interior e as imagens que permeiam suas laterais.

Aqui vamos te contar um segredo muito bem guardado de uma experiência incrível. Muito pouca gente sabe que, na sua parte lateral direita, um pouco escondididinha, podem ser visitadas as ruínas da igreja construída anteriormente, em 1549. As paredes ainda mostram as técnicas de construção da época. É emocionante visitar essa capela centenária impregnada da história do país.

Se tiver disponibilidade de tempo, visite a Cidade da Música e o Mercado Modelo.

A Cruz Caída

Após, siga subindo e você logo vai poder ver o Monumento da Cruz Caída, do talentosíssimo artista baiano Mário Cravo, um de seus mais belos trabalhos.

O monumento marca o local onde anteriormente existia o altar da Catedral da Sé, por isso a simbologia da escultura.

As passarelas de ferro de hoje, inclusive, marcam o traçado original da catedral demolida e, por isso, possuem desenho do formato da igreja original, demarcando o local de suas ruínas.

O Terreiro de Jesus

Siga em direção ao Largo do Terreiro de Jesus e contemple a maior concentração urbana de igrejas que você vai conhecer. Elas estarão todas ao seu redor.

Sugerimos que você visite a lindíssima e recém restaurada catedral da Sé de Salvador, com teto que lembra o fundo de um barco e possui um altar riquíssimo todo revestido de folhas de ouro.

Na Sé há também um órgão na parte de cima e, se você der sorte, poderá ouvir o seu lindo som majestoso.

Aproveite para depositar as suas preces ao altar do Padroeiro da Cidade, que é São Francisco Xavier, não o Senhor do Bonfim, como se poderia imaginar. Ah, mais uma coisa, visite a lindíssima Sacristia e aprecie seus ornamentados altares.

Ao sair da Sé, atravesse o Largo do Terreiro de Jesus e vá em direção ao Largo do Cruzeiro de São Francisco, que fica em frente à Igreja de São Francisco de Assis, uma obra prima da arte colonial brasileira. Com interior inteiro de madeira entalhada e coberta com folhas de ouro, esse é um local icônico e imperdível na cidade. É tão lindo que emociona.

O que é o Pelourinho de Salvador?

Recuperado da emoção de uma visita à igreja e convento franciscanos, desça em direção ao Largo do Pelourinho.

De fato, o nome Pelourinho remete a um local de castigos de escravizados, mas usualmente, o Largo do Pelourinho de Salvador não era destinado a tal fim e hoje reúne baianos e turistas com um casario encantador ao redor.

É a foto icônica da cidade que você não pode deixar de ter.

Uma vez mais esteja atento ao fato de que o conjunto de casario colonial do Centro Histórico da cidade foi construído em sua maior parte pelos escravizados. O melhor horário para visitar o Pelourinho é durante o dia, uma vez que o colorido das casas é melhor o observado com bastante luz, além de ser mais seguro e o horário no qual as principais atrações do bairro, que possui muitos museus e igrejas, podem ser visitadas.

Pelourinho no Centro Histórico de Salvador
Pelourinho durante o dia – Foto: Elements

A Igreja dos Escravizados

Para finalizar, encerre a sua visita na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por uma das primeiras irmandades do país, a irmandade dos homens pretos. Símbolo de fé e resistência essa igreja é imperdível para quem pretende entender melhor como o país foi construído, depois que ele nasceu aqui, nesse local que hoje visitamos.

O que é cravinho?

Para brindar o encerramento da visita você não pode deixar de experimentar um cravinho, uma bebida à base da mais brasileira das bebidas, desde os tempos coloniais, a cachaça.

Há diversos locais que oferecem a bebida no Centro Histórico, mas o bar O Cravinho é o símbolo dessa bebida clássica do local. Continue a curtir e aproveitar a boemia do bairro, com seus muitos bares, restaurantes, ladeiras, personagens e cantinhos a descobrir. O pelourinho é um daqueles lugares que nunca dormem. Aproveite!

E já que você está no Centro Histórico de Salvador, fica a dica para conhecer a nossa lista de Restaurantes no Santo Antônio Além do Carmo, que fica bem próximo ao largo do Pelourinho e que encanta pela vista da baía, bem como pela gastronomia.

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