Porque alguns chefs franceses vêm abrindo mão de suas estrelas do Guia Michelin? À primeira vista parece meio paradoxal mas eles têm os seus motivos.

Uma estrela, mais faturamento

Ao entrar para o prestigioso Guia Michelin, e para o estrelado panteão da haute cuisine, não só os Chefs ganham prestígio e reconhecimento, mas é possível calcular financeiramente o valor acrescido em lucro ao negócio.

Em média, há um aumento de 27% do faturamento no restaurante ao receber uma estrela (imagine três). Um grande incremento.

Em que pese essa vantagem, há um fenômeno mais ou menos recente envolvendo a relação entre as estrelas e os seus estrelados: alguns Chefs estão abrindo mão de figurar no guia e pedindo para serem retirados da listagem, perdendo, assim, as suas estrelas.

Quem foram os Chefs

O primeiro chef que pediu para renunciar à distinção das estrelas, foi Joël Robuchon, em 1996 e, depois dele, outros seguiram. Surpreendeu a todos mais especialmente quando o chef Sébastien Bras em 2018, que detinha 3 estrelas, pediu para ter o seu restaurante completamente retirado do guia, informando razões pessoais ligadas à pressão permanente ligada à famosa estrela.

Do mesmo modo, logo no ano seguinte, 2019, o também célebre chef francês Marc Veyrat, após perder uma de suas 3 estrelas, pediu para deixar de ser mencionado pelo guia. Na oportunidade, revelou ainda questões de deterioração da sua saúde mental, pondo uma luz sobre a questão do bem estar psíquico dos profissionais avaliados sob tão pesadas exigências.

Por menos pressão e pelo direito de errar

Ainda assim, a pergunta que fica é:

Por que o relacionamento entre talentosos chefs e o guia de capa vermelha se mostra tão sensível?

Então é possível que as complexas relações entre os chefs e o famoso Guia tenha sua gênese na pressão permanente decorrente da famosa distinção, que impõe um rigor constante no trabalho dos chefs, adicionando mais uma fonte de estresse em um trabalho já carregado de exigências.

Manter a excelência para cada visitante, que muda constante e diariamente, não dá espaço para erro. É preciso dar o seu melhor e estar no topo todos os dias, em um exercício exaustivo de excelência. A estrela, assim, pode significar um peso tão enorme, ao ponto de retirar do chef o mais humano dos direitos, o de falhar.

Mais Holofote, Menos Cozinha

Da mesma forma, a estrela proporciona uma notoriedade nunca antes experimentada pelos chefs. Sob a luz do estrelato, os profissionais passam a ser convidados para aparecer na televisão e dar entrevistas, o que muitas vezes pode significar um afastamento temporal das suas próprias cozinhas. Assim, estar distante do seu habitat natural pode custar caro aos profissionais.

A distinção, parece, para alguns, revelar um gosto amargo, podendo ser até mesmo considerado, como dizem os franceses , un cadeau empoisonné, ou seja, um verdadeiro presente envenenado.

Fontes: challenges.fr / lexpress.fr / lepoint.fr / lexpansion.fr

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