O que você verá na matéria:
Uma experiência sensorial e cultural na Chapada Diamantina que vai muito além da colheita
Vindima na Bahia? Sim, sim… Bem ali, onde o céu parece mais perto e o sertão ganha brisa fresca, Morro do Chapéu cultiva um terroir surpreendente que desafia expectativas e encanta. Entre vinhedos que recortam a paisagem rochosa e um clima raro no Nordeste, a cidade desponta como destino promissor para o enoturismo brasileiro.
Fomos até lá para testemunhar este milagre da uva no sertão: a Vindima de Inverno da Vinícola Vaz, que reuniu mais de 300 participantes pagantes em uma celebração memorável. Com ingressos em torno de R$700 (e desconto de 40% para moradores da cidade), o evento ofereceu uma experiência completa, com vinho à vontade, gastronomia regional e música, do amanhecer ao entardecer.

A vindima, que reuniu jornalistas especializados e influencers de gastronomia, foi mais que uma visita, foi uma imersão em um ecossistema onde vinho, cultura, ciência e tradição se entrelaçam em perfeita harmonia.
A vindima com sotaque baiano
Participar de uma vindima na Bahia tem um muito sabor especial. É um ritual sensorial: de avental e chapéu, tesoura na mão, colhemos cachos maduros sob o céu azul da Chapada. Depois, os pés na pisa da uva. Um momento simbólico e lúdico, embalado por música ao vivo e aquela energia contagiante que só a Bahia sabe oferecer.

A Vindima da Vaz acontece duas vezes ao ano, em fevereiro (verão) e em agosto (inverno), graças ao raro sistema de duas podas anuais, prática incomum na enologia mundial. Sob o olhar apaixonado do fundador Jairo Vaz e da jovem e talentosa enóloga Rafaella Lacerda, natural de Petrolina, o evento se transforma em celebração da terra, do trabalho e da fé no futuro.

Muito além da uva: um roteiro de terroir
A viagem nos levou a conhecer todas as etapas da produção: da colheita ao envase. Visitamos também a Vinícola Reconvexo, onde um almoço entre vinhas nos apresentou os rótulos guiados pelo enólogo João Carlos Ramos. A paisagem, o vinho, o tempo suspenso.

Mas o sabor da Chapada vai além da taça. Na charcutaria Sabor Latino, o mestre Maciel Aguiar nos conduziu por um passeio entre aromas curados e técnicas artesanais. Na Queijaria Gurgalha, Roney Martins, um verdadeiro alquimista do leite, nos mostrou como geologia, microbiologia e ancestralidade moldam queijos de identidade única.

Foto: Gabriel Brawne

Foto: Felipe Havok
A experiência sensorial se ampliou na Akã, produtora local de óleos essenciais. E, como clímax afetivo, o almoço na Comunidade Quilombola de Barra II: uma mesa farta de andú, picadinho de palma, codó de banana verde e mangará, temperada com afeto, história e acolhimento. Nosso agradecimento especial à querida Edeuzita, que nos recebeu com braços abertos e coração cheio de afeto.

O nascimento de uma nova rota do vinho
Morro do Chapéu tem potencial para ser o epicentro do enoturismo na Bahia. Ainda em fase de crescimento, a região enfrenta desafios como infraestrutura hoteleira. Há esforços do setor público para atrair investimentos e impulsionar o turismo local, ainda que os projetos de glamping, por enquanto, sejam iniciativas tímidas e pontuais.
Os vinhos da Vaz já conquistaram reconhecimento nacional. Na Grande Prova Vinhos do Brasil 2025, o Malbec Ferro Doido recebeu medalha de ouro (92 pontos), e o Sauvignon Blanc, medalha de prata (90 pontos), colocando a Chapada no mapa do novíssimo mundo do vinho.
A Vindima da Vinícola Vaz é o testemunho de uma revolução silenciosa, onde o sertão se reinventa e nos brinda com experiências que tocam o paladar, o coração e a alma.

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