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Além da Estrutura: A Odisseia Apaixonante da Tannat

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No compasso tranquilo deste domingo de Páscoa, entre sabores intensos e silêncios cheios de significado, convidamos você a desacelerar. Nada melhor do que um bom vinho para acompanhar esse momento — e, claro, as palavras sempre envolventes de Carol Souzah.

Na quarta coluna assinada por ela para o Muito Gourmet, a sommelière nos leva por caminhos onde a Tannat se revela mais do que uva: torna-se personagem de uma história marcada por fé, cura, migração e paixão. Em tempos de renovação, sua escrita nos lembra que também o vinho pode ser rito, memória e renascimento.

Abra sua taça. A seguir, Carol nos convida a sentir, lembrar e brindar.

Além da Estrutura: A Odisseia Apaixonante da Tannat

Em uma taça de Tannat há mais do que um vinho de taninos pronunciados; há histórias de povos, adaptação, resiliência, cura, bons goles e paixão.

Escolhi escrever a coluna de hoje sobre essa uva e sua fama justamente no “Dia Internacional da Uva Tannat”, 14 de abril. A ideia surgiu enquanto conversava — e bebia — com meu amigo Felipe. Mais tarde, já em casa, lembrei de tantos Tannats maravilhosos que já degustei… e de outros, até famosos, mas de qualidade duvidosa para esta sommelière que vos escreve.

Onde tudo começou: Tannat nascida na fé e na rusticidade francesa

Sem mais delongas, foi na França que tudo começou. A Tannat nasceu em Madiran, no sudoeste do país — uma terra de vinhos rústicos e de fé, produzidos por monges que acreditavam que o vinho era remédio para o corpo e para a alma. Pensando bem, os Tannats daquela época talvez curassem mesmo — não só pela fé dos monges ditosos, mas pelos compostos presentes na uva, verdadeiros elixires criados por Dionísio, o deus do vinho.

E se um vinho tinto já é bom para a saúde, imagine um Tannat? Além do perfil sensorial marcante, estudos indicam que seu coquetel de polifenóis, antocianinas e resveratrol está associado à proteção cardiovascular e à saúde cerebral. Mas, claro, tudo com moderação.

Uma uva que encontrou lar no Uruguai

A Tannat chegou ao Uruguai na década de 1870, levada pelo imigrante basco Pascual Harriague. Desde então, adaptou-se perfeitamente ao terroir uruguaio e tornou-se a variedade emblemática do país.

Hoje, o Uruguai é o segundo maior produtor mundial de Tannat, atrás apenas da França. O nome da uva deriva dos altos níveis de taninos, que conferem ao vinho uma estrutura robusta e um grande potencial de envelhecimento. Por isso, o Tannat é excelente tanto em varietais quanto em cortes — nestes, sua intensidade se harmoniza com outras castas, resultando em rótulos complexos e elegantes.

Tannat: paixão intensa que desafia paladares

Apesar de sua força, o Tannat nem sempre agrada a todos. Seus taninos potentes e estrutura encorpada exigem um paladar aberto à intensidade. Mas, para os amantes de vinhos densos e ousados, ele representa uma escolha extraordinária.

Se você é um enófilo em busca de novas experiências, mergulhar nos vinhos Tannat do Uruguai é uma jornada de descobertas memoráveis.

Dicas da Somm: três vinícolas uruguaias imperdíveis

Bodega Garzón (Maldonado)
Ícone da vinicultura uruguaia moderna, produz Tannats elegantes, com frescor, complexidade e reconhecimento internacional.
Destaque: Garzón Single Vineyard Tannat

Garzon Single Vineyard Tannat
Garzón Single Vineyard Tannat – Foto: Divulgação

Pisano Wines (Canelones)
Vinícola familiar, biodinâmica e multipremiada. Trabalha o Tannat com identidade forte, inclusive em cortes criativos.
Destaque: Pisano RPF Tannat

Alto de la Ballena (Maldonado)
Pequena vinícola boutique com Tannats de altitude, frescos e aromáticos. Pouco conhecida, mas merece atenção.
Destaques: Blend Tannat-Viognier e Reserva Alto de la Ballena (varietal)

No Brasil, a Tannat ganha charme e elegância

No Brasil, a Tannat tem brilhado na Campanha Gaúcha, onde os vinhos apresentam taninos mais macios e elegantes — ideais para quem busca equilíbrio e acessibilidade desde a juventude.

Se você é um verdadeiro apaixonado por Tannat, precisa conhecer os rótulos da Vinícola Guatambu, em Dom Pedrito (RS).

Admito: tenho um caso de amor com essa vinícola. Tudo que nasce ali surpreende — muito graças à genialidade da enóloga Gabriela Pötter, que consegue extrair o melhor da uva e do terroir local.

Destaques:

  • Lendas do Pampa Tannat: intenso, com taninos marcantes e complexidade admirável.
  • Rastros do Pampa Tannat: um dos grandes Tannats brasileiros, com taninos sedosos e elegância ímpar. Um vinho lindo.

Que cada taça de Tannat seja um abraço intenso entre história e terroir.

Carol Souzah sommèliere e jornalista

Sobre Linha Editorial e a Carol Souzah

Carol Souzah é sommelière, jornalista e nova colunista do Muito Gourmet.

A sommelière abordará inovações no mundo dos vinhos, curiosidades, harmonizações, aspectos socioeconômicos, sustentabilidade, ética na produção e muitas dicas.


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