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Por trás da carta de vinho: quando o vinho conta a história do restaurante
Muitos acreditam que uma carta de vinhos é apenas uma lista de rótulos. Mas, nas mãos de uma sommelière, ela pode ser algo muito maior: uma narrativa sensorial que conecta a cozinha, o cliente e a alma de um restaurante.
Na nova coluna para o Muito Gourmet, Carol Souzah revela os bastidores desse trabalho criativo e meticuloso. Entre números, pesquisa de mercado, escuta atenta e respeito à identidade de cada casa, nasce uma carta que não é só ferramenta de venda, mas também convite — a descobrir, experimentar e viver cada taça como parte da experiência.
Por trás da carta: como nasce uma experiência em cada taça
Muita gente acredita que criar uma carta de vinhos é apenas selecionar bons rótulos. Na prática, o processo é muito mais profundo. Cada carta que assino nasce de uma escuta atenta e de uma imersão no universo do restaurante: entender seus números, sentir a alma da gastronomia, conhecer a ideia do chef e o que ele deseja transmitir, além de uma pesquisa de mercado. Só assim é possível transformar o vinho em elo vivo da experiência à mesa.
Também é preciso lembrar que uma carta não se faz com base apenas no gosto pessoal do sommelier. Não basta escolher os vinhos que eu gosto, mas sim aqueles que vão vender, que dialogam com a cozinha e com o público, e que, ao mesmo tempo, tragam rótulos icônicos que elevem a experiência.
Hoje existem vários estilos de cartas: algumas minimalistas, outras criativas, algumas organizadas de forma clássica por países e regiões, outras com títulos modernos que quebram a rigidez do tradicional. O caminho que escolho costuma ter um ponto em comum: aproximar o cliente do vinho, dissolver receios e tornar o momento da escolha prazeroso.
Na última carta que desenvolvi, a do restaurante Pasta em Casa, do chef Celso Vieira, a proposta foi clara: uma carta informativa e acolhedora. Em vez de descrições complicadas, trouxe características sensoriais em linguagem simples e instigante, capaz de despertar desejo. Cada vinho vem acompanhado de dicas de harmonização com os pratos da casa, criando pontes diretas entre o que está no prato e o que está na taça. O resultado? Ganha o cliente, que se sente confiante e curioso, e ganha o restaurante, que vê seu serviço de vinhos crescer em fluidez e encantamento.
E o que não pode faltar em uma carta de vinhos? Nas minhas, sempre há espaço para brancos com acidez vibrante, como um Petit Chablis, que é frescor e elegância pura. Também para vinhos com alma e sem maquiagem, como os da produtora Filipa Pato, que traduz a essência da Bairrada em cada gole, uma verdadeira viagem a essa região sem sair da taça. É isso que o vinho deve provocar: descobertas, memórias e a sensação de estar em outros mundos através de cada rótulo.
E claro, não abro mão de tintos gastronômicos, pensados para se conectar à culinária de cada restaurante, criando harmonias que dão sentido à experiência.
Uma carta bem construída não é só uma ferramenta de vendas, mas também de identidade. Ela traduz o estilo da cozinha, facilita a autonomia do cliente e ajuda a equipe de salão a memorizar e oferecer cada rótulo com segurança. Para mim, consultoria de vinhos é isso: mergulhar na essência de cada restaurante, pensar na experiência do cliente, gerar valor e encantamento em cada garrafa.
No fim, uma carta de vinhos não é uma lista, é um convite: a brindar, descobrir e viver momentos especiais.

Sobre Linha Editorial e a Carol Souzah
Carol Souzah é sommelière, jornalista e nova colunista do Muito Gourmet.
A sommelière abordará inovações no mundo dos vinhos, curiosidades, harmonizações, aspectos socioeconômicos, sustentabilidade, ética na produção e muitas dicas.
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