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Você já comprou um vinho só porque ele ostentava uma medalha dourada ou levava um selo com 94 pontos de uma publicação desconhecida? Se sim, você não está sozinho, e também não está errado. Em tempos de infinitas opções nas prateleiras e nas lojas online, buscar referências é quase um reflexo automático. Mas será que elas falam a língua do seu paladar?
Na nova coluna assinada por Carol Souzah, a sommelière nos convida a refletir sobre o uso de guias, rankings, premiações e selos como ferramentas de escolha. Com seu olhar sensível e direto, ela lembra: pontuações ajudam, mas o que realmente importa é o que acontece entre o vinho e quem o bebe.
Guias, medalhas e pontuações: até onde confiar?
Você já comprou um vinho só porque viu uma medalha dourada no rótulo? Ou escolheu aquele tinto porque tinha 94 pontos numa publicação que você nem conhecia? A gente vive numa era de muitas referências e, quando o assunto é vinho, elas se multiplicam. Guias especializados, concursos, rankings e selos de premiação viraram quase uma linguagem à parte nas prateleiras. Mas será que vale seguir tudo ao pé da letra?
Guias como o Descorchados, cuja edição de 2025 foi lançada em abril, são importantes. Eles ajudam a mapear tendências, dar visibilidade a novos produtores e até a guiar escolhas diante de tantas opções. Mas é importante lembrar: quem julga um vinho também tem preferências pessoais. Mesmo com toda a técnica envolvida, existe uma camada de subjetividade nesse olhar. Patricio Tapia, por exemplo, não é só o criador do Descorchados, ele tem uma visão particular do que valoriza em um vinho. Você também tem a sua. E ela importa.
Veja: se você ama vinhos encorpados, com bastante madeira e presença, talvez um vinho mais leve, com perfil fresco e acidez alta, mesmo com 96 pontos no guia, não te agrade tanto. Por outro lado, se você busca delicadeza, fruta limpa e transparência, como eu, pode achar pesado e cansativo aquele tinto premiado cheio de extração e barrica nova. Aí a frustração vem, mesmo depois de ter seguido a “recomendação certa”. Ou seja: antes de seguir medalha, ponto ou selo, escute o seu paladar.
Outro ponto: guias trabalham com critérios próprios. Patricio Tapia, por exemplo, tem questionado vinhos super extraídos, pesados, com muita intervenção. Nas últimas edições, ele tem valorizado rótulos mais frescos, com acidez marcada e transparência de terroir. Isso é ótimo, pois aponta uma tendência e nos convida a refletir sobre o que estamos consumindo. Mas também significa que certos estilos de vinho podem acabar ficando em segundo plano.
No fim das contas, usar guias é como viajar com um mapa na mão, ele orienta, mas quem sabe pra onde vai, e escolhe o caminho, é você. Vinhos não são fórmulas prontas, e a melhor escolha é sempre aquela que respeita o seu gosto. Um 89 que te faz sorrir vale muito mais do que um 97 que você não consegue terminar a taça.
Dica da Sommelière
Acredite no seu gosto. Guias e medalhas podem ser ferramentas incríveis para descobrir novos rótulos e tendências, mas confie no seu paladar ao fazer suas escolhas. No fim das contas, quem vai beber é você.

Sobre Linha Editorial e a Carol Souzah
Carol Souzah é sommelière, jornalista e nova colunista do Muito Gourmet.
A sommelière abordará inovações no mundo dos vinhos, curiosidades, harmonizações, aspectos socioeconômicos, sustentabilidade, ética na produção e muitas dicas.
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