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O plano dos Estados Unidos para encher o Brasil de Pistache

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O sabor da vez não nasceu no Brasil (e nem por acaso)

Pistache no Brasil virou sinônimo de sofisticação instantânea, mesmo sem nunca ter sido plantado aqui. Está no cookie artesanal, no gelato italiano da moda, no pudim repaginado da confeitaria autoral e no panetone de fim de ano.

O tom verde-pálido tomou as vitrines com força. Mas essa febre não nasceu do gosto popular. Ela é parte de um plano bem articulado, liderado pelos Estados Unidos, para transformar o Brasil em consumidor fiel de um produto que tem muito mais a ver com geopolítica do que com sobremesa.

O Brasil não cultiva pistache. Mesmo assim, em 2024, importou mais de mil toneladas. Oito em cada dez quilos vieram dos Estados Unidos.

bolo de pistache
O plano dos Estados Unidos para encher o Brasil de Pistache

Um plano com nome, sobrenome e investimento

Desde 2020, o governo americano atua com foco no Brasil para transformar o pistache em símbolo de sofisticação. A estratégia inclui participação em feiras gastronômicas, ações com chefs brasileiros, collabs com influencers e parcerias com restaurantes renomados.

Não é coincidência. É plano. Os EUA hoje lideram a produção global da noz, graças a décadas de investimento agrícola na Califórnia. Com plantações que duram até cem anos, o excedente é enorme. Para escoar esse volume, o Brasil foi escolhido como mercado-chave.

Tudo começou com uma crise diplomática

Originalmente, quem liderava o mercado global de pistache era o Irã. Mas após a crise dos reféns, em 1979, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas e comerciais com os iranianos. A partir daí, passaram a desenvolver sua própria produção da noz, com tanto sucesso que, em 2016, ultrapassaram o antigo rival.

O pistache que hoje enfeita sobremesas brasileiras é, portanto, um subproduto direto de um conflito internacional.

O Brasil virou consumidor. Mas podia ser protagonista

Enquanto o pistache recebe atenção institucional, nossas castanhas nativas seguem à margem. A castanha de caju custa até três vezes menos e é rica em nutrientes. A do Pará representa a biodiversidade amazônica. A de baru, o Cerrado.

Mas nenhuma delas conta com um plano de valorização. Não há campanha nacional, nem incentivo consistente, nem projeto de posicionamento. E o resultado é claro: o que falta em marketing, sobra em invisibilidade.

Cultivar autoestima alimentar é mais urgente que plantar pistache

A Embrapa já estuda cultivar pistache no Ceará. É um passo interessante. Mas mais importante do que adaptar o produto estrangeiro é promover com inteligência o que já é nosso.

O pistache virou moda porque alguém contou a história certa, com o investimento certo, no momento certo. Isso é soberania narrativa. E também é soberania alimentar.

Comer é também um ato político

O que está no nosso prato é resultado de decisõe; comerciais, diplomáticas, midiáticas. Se o pistache é o sabor do momento, é porque houve um projeto para isso acontecer.

A pergunta é: quando vamos fazer o mesmo com a castanha de caju? Com o cumaru? Com o baru? O Brasil precisa deixar de ser um eterno consumidor do desejo alheio.

Só há um caminho para isso: estratégia.


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