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Coquetelaria Brasileira: A Redenção da Cachaça nos Balcões do Mundo

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Como a coquetelaria brasileira resgatou a cachaça e conquistou prestígio internacional

Durante muito tempo, a cachaça foi vista como intrusa no universo da coquetelaria. Enquanto destilados importados reinavam absolutos em bares sofisticados, o nosso espírito nacional era relegado a poucos coquetéis populares, como a Caipirinha e o Rabo de Galo, e quase sempre servida sem o devido prestígio.

Mas isso começou a mudar.

E quem conta essa virada é o expert Raimundo Freire, com a autoridade de quem acompanha o renascimento da cachaça em taças cada vez mais nobres.

Neste artigo, ele revisita a história recente da coquetelaria brasileira e revela como drinques como o Macunaíma e a própria Caipirinha passaram de “simples” a “icônicos”, graças à criatividade nacional, ao resgate da tradição e ao reconhecimento da cachaça como uma bebida de altíssimo nível. Prepare-se para mergulhar em histórias saborosas, curiosidades culturais e receitas perfeitas para brindar com orgulho.

Coquetelaria Brasileira: A Redenção da Cachaça nos Balcões do Mundo

Por décadas, cachaça e mixologia caminharam em avenidas opostas, quase como inimigas declaradas. Há menos de quinze anos, a ideia de um bartender sofisticado, em um balcão reluzente de São Paulo ou do Rio, utilizando o espírito brasileiro em seus coquetéis era quase uma heresia. Drinques com cachaça? Eram o popular Rabo de Galo e a Caipirinha servidos sem cerimônia em copos de boteco — e olhe lá. Uma tremenda injustiça com o nosso destilado.

Mas o tempo, senhor de todas as transformações, começou a virar esse jogo. Impulsionada por uma nova geração de produtores, a cachaça artesanal saiu do armário. Com qualidade, história e uma cultura riquíssima, ela foi, pouco a pouco, convencendo o mundo – e, com um esforço hercúleo, os próprios brasileiros – de que é uma das bebidas mais complexas e fascinantes do planeta.

Nessa esteira, os coquetéis finalmente encontraram seu lugar ao sol. O Rabo de Galo, nossa tradução literal e bem-humorada para a palavra que define esse universo — cocktail —, deixou de ser um “vira-vira” de ingredientes baratos. Ele renasceu. Deixou a prateleira empoeirada para se tornar um drinque de verdade, cobiçado, equilibrado e preparado com orgulho por alguns dos melhores bartenders do país. Hoje, ele figura em cartas internacionais, um embaixador líquido da criatividade brasileira.

cock-tail rabo de galo cocktail coquetelaria brasileira

Vamos aprofundar o conhecimento sobre a coquetelaria brasileira?

Apresentarei as histórias e as curiosidades por trás de dois coquetéis icônicos: a Caipirinha, nossa estrela internacional, e o Macunaíma, um clássico moderno. Mergulharemos nas histórias fascinantes desses dois coquetéis, que revelam muito sobre a cultura e a criatividade brasileira.


A Caipirinha: Do Remédio Popular ao Ícone Nacional

A história da Caipirinha, como a de muitas criações populares, não tem um registro oficial, mas sim algumas versões que se complementam. A mais difundida nos leva ao interior de São Paulo, por volta de 1918. Em meio à devastadora gripe espanhola, era comum o uso de um remédio caseiro que levava limão, alho e mel. Para “acelerar” o efeito terapêutico, muitas vezes se adicionava um pouco de cachaça. Com o tempo, alguém teve a brilhante ideia de remover o alho e o mel, adicionar açúcar para equilibrar a acidez e, claro, gelo para refrescar. Nascia ali, de uma receita medicinal, o drinque que se tornaria a cara do Brasil.

Outra vertente, defendida por historiadores como Luís da Câmara Cascudo, aponta que a Caipirinha surgiu no século XIX, também no interior paulista, na região de Piracicaba, um grande polo canavieiro. Nesse cenário, ela teria sido criada por fazendeiros como um coquetel de alto padrão para festas e eventos, uma alternativa local aos destilados importados.

Independentemente da origem exata, o nome “caipirinha” é uma clara alusão à sua origem interiorana, ou “caipira”. O coquetel se popularizou, ganhou o país e o mundo, sendo hoje reconhecido oficialmente pela Associação Internacional de Bartenders (IBA) e tombado como Patrimônio Cultural Brasileiro.


O Macunaíma: Um Clássico Moderno Nascido em São Paulo

Avançando quase um século no tempo, chegamos a 2014, ano de Copa do Mundo no Brasil. Em São Paulo, no balcão do bar Boca de Ouro, o jornalista e proprietário Arnaldo Hirai criou um coquetel para celebrar o evento. A receita era simples e genial: cachaça, Fernet Branca, xarope de açúcar e limão.

Inicialmente, o drinque foi batizado de “Caxirola”, em homenagem ao instrumento musical criado para ser a “vuvuzela brasileira” no mundial. O instrumento não pegou, e Hirai precisou de um novo nome, que mantivesse a brasilidade. A escolha foi perfeita: Macunaíma, o “herói sem nenhum caráter” da obra-prima de Mário de Andrade.

Assim como o personagem modernista, o coquetel Macunaíma é a cara do Brasil: complexo, agridoce, com um amargor herbal surpreendente e, acima de tudo, cativante. O sucesso foi imediato e o drinque, mesmo jovem, já é considerado um clássico moderno, presente em cardápios de todo o país e reverenciado por sua simplicidade e sabor único.


As Receitas

Caipirinha Perfeita (Receita Clássica da IBA)

Ingredientes:

  • 60 ml de cachaça (de preferência branca e de boa qualidade)
  • 1 limão Taiti
  • 2 a 4 colheres de chá de açúcar branco
  • Gelo em cubos

Modo de Preparo:

  1. Corte as pontas do limão e, em seguida, corte-o ao meio. Fatie as metades em meias-luas.
  2. Em um copo tipo “old fashioned”, adicione o limão e o açúcar. Macere levemente.
  3. Complete com gelo, adicione a cachaça e misture bem.
  4. Sirva imediatamente.

Macunaíma (Clássico Moderno do Boca de Ouro)

Ingredientes:

  • 45 ml de cachaça branca
  • 25 ml de xarope de açúcar
  • 20 ml de suco de limão Taiti fresco
  • 7 ml de Fernet Branca
  • Gelo

Modo de Preparo:

  1. Bata todos os ingredientes em coqueteleira com bastante gelo.
  2. Coe duas vezes para um copo baixo (tipo “barriquinha”), sem gelo.
  3. Sirva sem decoração.

Saúde! Beba com moderação e com orgulho da coquetelaria brasileira.


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