O que você verá na matéria:
Escolher vinho não é um teste: é um convite ao prazer
Como escolher vinho pode parecer um desafio maior do que encarar uma prova de concurso público. Termos técnicos, nomes impronunciáveis e a dúvida eterna: “E se eu errar na escolha?”
Na nova coluna do Muito Gourmet, a sommelière Carol Souzah joga luz sobre esse medo tão comum e propõe um olhar mais leve, sensorial e acessível para quem quer aprender como escolher vinho sem complicação. Com sua escrita direta e afetuosa, ela lembra: vinho é prazer e não um teste de conhecimento. Vamos lá aprender como escolher um vinho sem traumas?
Você tem medo de escolher seu vinho? Descomplicando a escolha
Não precisa encarar a carta de vinhos como se fosse uma prova de concurso, torcendo pra ninguém puxar assunto. Lembro bem de uma vez em que fui escolher um vinho numa adega aqui em Salvador. Era para uma ocasião especial, e eu só queria algo fresco, leve, que combinasse comigo. A sommelière se aproximou, simpática, e perguntou:
— Você prefere vinhos do Velho Mundo ou do Novo?
Na hora, confesso: achei a pergunta pouco útil. Eu só sabia que gostava de brancos cítricos, daqueles bem vivos, que acendem o céu da boca. Entendo a lógica geográfica e estilística por trás dessa divisão — vinhos europeus de um lado, mais “clássicos”, e os do Novo Mundo, geralmente mais frutados, diretos, solares. Mas naquele momento, o que eu precisava não era uma aula de geopolítica vínica. Era ajuda prática pra encontrar um rótulo que falasse comigo.
Ali me caiu uma ficha: a linguagem do vinho ainda parece feita pra excluir. É como se quem não domina o jargão não pudesse escolher com segurança. Mas e se a gente invertesse esse jogo? E se, ao invés de exigir vocabulário, a experiência do vinho convidasse para sensações?
Nem todo mundo precisa saber o que é um vinho com “taninos polidos” ou “notas de tabaco seco”. O que importa é saber o que se sente ao beber — e ter alguém do outro lado da taça que saiba traduzir isso em sugestões reais. Porque escolher vinho, no fundo, é escolher prazer. E o prazer não precisa de dicionário técnico.
Se você já viveu algo parecido, respira comigo: pedir vinho não é um teste de inteligência. É só escolher um caminho pra acompanhar sua comida. Ou sua conversa. Ou sua fuga poética do dia.
O problema é que a carta de vinhos ainda assusta. Parece escrita em outro idioma (às vezes literalmente), cheia de nomes impronunciáveis, regiões e denominações que você nunca ouviu falar e preços que fazem seu CPF chorar. Mas deixa eu te contar um segredo: vinho não é uma senha de entrada pra um clube exclusivo. É uma bebida milenar feita pra reunir gente ao redor da mesa. É líquido de celebrar, dividir, errar, rir. E sim, pra aprender também — mas sem pressão.
Como escolher vinho sem travar na hora H
- Conte ao sommelier ou vendedor o que você sente vontade de beber.
Não precisa saber o nome da uva. Basta dizer: “Prefiro vinho mais leve”, “Quero algo fresco”, “Quero gastar até X”. Ninguém vai te julgar. Muito pelo contrário: quem trabalha com vinho ama ajudar a acertar no copo. - Perguntar é sinal de inteligência (líquida).
Não entendeu o termo? Pergunte de novo. Pedir ajuda, repetir com outras palavras ou assumir que está conhecendo é sempre elegante. - Leve em conta o clima e o emocional também.
Calor combina com frescor: brancos, rosés, espumantes. Dias frios convidam tintos mais estruturados. Mas também tem o “clima da alma”: tem vinho que combina com silêncio e outros com risadas. Siga esse termômetro interno. - Respeite seu bolso e brinde sem vergonha.
Tem vinho bom em todas as faixas de preço. Saber escolher com inteligência vale mais do que exibir rótulo. Quem entende de vinho, entende de contexto.
No fim das contas, como escolher vinho é muito menos sobre saber tudo e muito mais sobre saber de si. É prestar atenção no que você gosta, no que aquele momento pede. O vinho certo não é o mais falado do momento. E se tiver dúvidas, siga em frente com curiosidade, não com medo.
Porque entre rótulos e regras, o melhor caminho ainda é o do prazer.
E nisso, eu te garanto: você pode confiar na Somm.


Sobre Linha Editorial e a Carol Souzah
Carol Souzah é sommelière, jornalista e nova colunista do Muito Gourmet.
A sommelière abordará inovações no mundo dos vinhos, curiosidades, harmonizações, aspectos socioeconômicos, sustentabilidade, ética na produção e muitas dicas.
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