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Tão brasileira quanto o samba, o dendê e o nosso jeitinho de celebrar a vida, a cachaça está presente em festas populares, rituais familiares e incontáveis encontros ao redor do copo. Mas, curiosamente, por estar tão enraizada em nossa cultura, muitas vezes deixamos de olhá-la com a atenção que merece. Familiar demais para despertar curiosidade, próxima demais para ser explorada a fundo.
É justamente para resgatar esse olhar curioso e encantado que nasce a ideia da coluna assinada por Raimundo Freire — bartender, sommelier e apaixonado declarado por esse destilado tipicamente brasileiro.
E, como não poderia deixar de ser, Raimundo fez questão de começar pelo começo. Afinal, antes de explorar sabores, barris e harmonizações, é preciso entender o que é, de fato, a cachaça. Um gesto simples, mas poderoso, para que essa bebida tão nossa nunca mais passe despercebida.
Abra seu paladar, afine seus sentidos. A primeira dose já está servida.
Afinal, o que é Cachaça?
A cachaça é uma bebida alcoólica tipicamente brasileira, considerada um verdadeiro símbolo nacional. Produzida a partir da fermentação e destilação do caldo fresco da cana-de-açúcar, sua origem remonta ao século XVI, nos primeiros engenhos coloniais do Brasil.
Mas o que exatamente faz da cachaça um dos destilados mais fascinantes do mundo? Descubra abaixo:
É brasileira, com orgulho
Assim como o escocês tem o scotch whisky, o francês o champagne e o mexicano a tequila, a cachaça é exclusividade nossa. Para ser considerada cachaça, a bebida deve ser produzida no Brasil, com teor alcoólico entre 38% e 48%. Fora dessa faixa, o nome muda: passa a ser aguardente de cana.
Feita com caldo fresco de cana-de-açúcar
A única matéria-prima da cachaça é a cana-de-açúcar. O caldo — também conhecido como garapa — deve ser extraído no máximo 48 horas após o corte da cana. Isso garante frescor e qualidade ao produto final. Destilados produzidos a partir de outras fontes, como frutas, não podem ser chamados de cachaça.
Um processo artesanal: fermentação e destilação
Após a extração, o caldo de cana é misturado com água e levado às dornas, onde ocorre a fermentação. Leveduras naturais transformam o mosto em “vinho de cana”, que depois é destilado em colunas de inox ou alambiques de cobre. O resultado é uma bebida fermento-destilada, rica em identidade.
Pode conter açúcar — mas com limites
A legislação brasileira permite a adição de até 6g de açúcar por litro (sacarose). Acima disso, até o limite de 30g, a bebida passa a ser classificada como “cachaça adoçada”. Esse perfil é mais comum na produção industrial, mas também pode ocorrer em cachaças artesanais envelhecidas, quando o açúcar é naturalmente absorvido da madeira.
A importância dos congêneres
Diferente da vodca, que é múltipla e neutra na destilação, a cachaça é monodestilada. Isso significa que muitos compostos aromáticos formados na fermentação — como aldeídos, ésteres e ácidos — permanecem na bebida, contribuindo para seu caráter complexo, encorpado e profundamente aromático.
As nossas madeiras: identidade sensorial do Brasil
A cachaça pode ser consumida “branquinha”, sem envelhecimento, mas também pode amadurecer em madeiras nobres. Barris de carvalho são os mais usados, mas a grande riqueza está nas madeiras brasileiras, como amburana, bálsamo, jequitibá, ipê, grápia e cabreúva. Cada uma imprime à bebida um perfil sensorial único, com notas que vão do floral ao resinoso, do doce ao amadeirado.
Mais que bebida: patrimônio cultural
A cachaça não é apenas um destilado — ela é celebração, história e resistência. Da caipirinha à degustação pura, ela acompanha festas populares, rodas de samba e encontros familiares. É presença marcante nos festejos juninos e tema de festivais pelo Brasil. Com ela, brindamos à memória, à cultura e ao sabor.

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